Direito de todos
Soraya Hissa (Superintendente de Modalidades e Temáticas Especiais de Ensino da SEE-MG)
A formulação de políticas públicas direcionadas para a educação básica
em Minas Gerais passa, necessariamente, pelo desenvolvimento de ações
pedagógicas inovadoras, assentadas em um conceito amplo de educação, e
em propostas mais abrangentes, sempre norteadas pelo princípio da
inclusão.
Introduzida no contexto educacional com o objetivo de
reverter uma realidade histórica do país, marcada pela desigualdade e
exclusão, a política educacional inclusiva da rede pública estadual de
educação é orientada pelo reconhecimento de direitos, respeito às
individualidades e valorização da diversidade. A inclusão na escola,
prevista na legislação vigente, parte do princípio de que todos têm o
direito de acesso ao conhecimento sem nenhuma forma de discriminação.
Dentro
dessa perspectiva, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) trabalha em
toda a sua rede - nas 3.702 escolas - para que a oferta de um ensino de
qualidade seja, de fato, universal. As condições de entrada e
permanência na escola trazem benefícios incontestáveis para o
desenvolvimento do estudante com deficiência, uma vez que garantem o
convívio, a socialização e a troca de experiências entre crianças e
jovens de diferentes realidades. Para tanto, a escola tem de ser
preparada, tanto no aspecto da infraestrutura, quanto no seu projeto
pedagógico, para que todos os alunos tenham as mesmas oportunidades.
Para
garantir todo o suporte ao estudante com deficiência, as escolas
oferecem o atendimento educacional especializado. Esse trabalho conta
com profissionais como o professor de apoio, o intérprete de libras e o
guia-intérprete. Para além da sala de aula, o atendimento educacional
especializado se faz presente nas salas de recursos, que dispõem de uma
série de instrumentos que, no contraturno, complementam o atendimento
dos alunos. A política de inclusão envolve, também, a acessibilidade
arquitetônica e tecnológica, capacitação de educadores e a formação de
redes de apoio.
O trabalho desenvolvido, ao longo de décadas,
pelos Centros de Atendimento Educacional Especializado da Rede Pública e
pelas instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas, sem
fins lucrativos, se soma às propostas da política de inclusão da rede
pública estadual.
Sabe-se que a prática da educação inclusiva
está em permanente construção e propõe, a todos, uma mudança de cultura e
de paradigma. Importantes passos já estão sendo dados, mas é preciso
estar sempre atento ao fato de que ainda se pode avançar muito, para
assegurar a todos os alunos o permanente direito de aprender,
compartilhar e conviver sem nenhum tipo de discriminação.
O desafio da inclusão
Marly Moysés S. Araújo (educadora - marlymoiyse@gmail.com)
"O que o Brasil precisa para florescer como uma grande nação é bem pouco:
que todo mundo tenha emprego e, pelo menos, tenha o curso primário",
afirmava o professor Darcy Ribeiro. De saída, sabe-se que, em pleno
século XXI, essas condições, embora elementares, estão longe de ser
satisfeitas, e o motivo é, também, sabido: a educação, no Brasil, é
prioridade no discurso e, entre esse e a prática, há uma enorme
distância.
Uma breve retrospectiva sobre o tema confirma essa
triste realidade. A chamada educação especial desde a antiguidade
incorporou-se ao processo educativo, como forma de atender a pessoas
que, em virtude de alguma necessidade especial, não acompanhavam o
ensino regular e não construíam espaços de interação e convívio social,
principalmente por viverem segregadas. A concepção sobre "deficiência",
como algo além do natural, estabelecia os conceitos de normal e anormal e
ao considerado "anormal" atribuía-se, de modo preconceituoso, a
condição de deficiente.
As inovações introduzidas nesses
conceitos, com a emergência de novas concepções, que consideram as
interações sociais como relevantes para o processo de desenvolvimento
humano, contribuíram para um novo olhar sobre a questão e deram origem
ao paradigma da integração, que precedeu o da inclusão. Esse movimento,
iniciado nos anos 1960/70, ganhou destaque ao definir a noção de um
padrão de vida mais próximo daquele para os ditos "normais", aproximando
o deficiente das atividades sociais.
Na prática, os resultados
foram insatisfatórios. Não houve conscientização da sociedade, no
sentido de contribuir para a efetivação de oportunidades iguais para as
pessoas com deficiência, e não se extinguiu a segregação, pois as
pessoas, mesmo integradas às escolas regulares, às quais deveriam
adaptar-se, não encontraram reciprocidade, porquanto as escolas não
estavam preparadas para recebê-las. Ainda existe uma enorme distância
entre o legal e o real; entre a promessa e a prática da inclusão.
Nos anos 1990, a necessidade de releitura das práticas educacionais no país colocou em destaque a inclusão como se essa palavra pudesse, em um passe de mágica, fazer valer o direito subjetivo à educação, contido na Constituição, que assegura oportunidades iguais para todos, baseada no princípio do respeito à dignidade humana no âmbito social e individual.
Como nosso sistema não é moldado para o desafio de educar pessoas com características especiais e que venham de famílias e situações comunitárias complexas, não será fácil superar barreiras em relação à inclusão. A tarefa que cabe à sociedade civil é cobrar do governo transparência, diálogo e mais ação.
Nos anos 1990, a necessidade de releitura das práticas educacionais no país colocou em destaque a inclusão como se essa palavra pudesse, em um passe de mágica, fazer valer o direito subjetivo à educação, contido na Constituição, que assegura oportunidades iguais para todos, baseada no princípio do respeito à dignidade humana no âmbito social e individual.
Como nosso sistema não é moldado para o desafio de educar pessoas com características especiais e que venham de famílias e situações comunitárias complexas, não será fácil superar barreiras em relação à inclusão. A tarefa que cabe à sociedade civil é cobrar do governo transparência, diálogo e mais ação.
Texto retirado do jornal O Tempo, 1º caderno, página 21, no dia 25/01/2013
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