quinta-feira, 27 de junho de 2013

Alfabetização no tempo certo ainda é desafio

Prova ABC mostra que apenas um terço dos alunos brasileiros aprenderam a ler, escrever e fazer contas até os 8 anos de idade. Minas Gerais ficou em primeiro lugar no ranking de matemática


Ler, escrever e fazer contas ainda é desafio para a maioria das crianças brasileiras nos anos iniciais da vida escolar. Na média, apenas um terço delas é considerado plenamente alfabetizado no tempo certo: até os 8 anos de idade, quando estão no 3º ano do ensino fundamental. Em Minas Gerais, essa proporção aumenta, mas em disciplinas como matemática e na escrita, menos da metade da meninada completa com sucesso essa fase da aprendizagem. Os dados, divulgados ontem, são resultado da segunda edição da Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização, a Prova ABC.
A avaliação é uma parceria do movimento Todos pela Educação, da Fundação Cesgranrio, do Instituto Paulo Montenegro/Ibope e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da Educação (MEC). O teste tem como objetivo avaliar a qualidade da alfabetização dos alunos nos primeiros anos do nível fundamental. Ele foi aplicado no fim de 2012 a 54 mil estudantes de 1,2 mil escolas públicas e privadas, de 600 cidades do país. Metade da amostra é de meninos do 2º ano e a outra é referente aos do 3º ano, série considerada limite para a alfabetização, de acordo com o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), lançado recentemente.
O desempenho satisfatório nas provas de leitura e matemática foi de estudantes que tiveram nota superior a 175 pontos. Em escrita, cuja escala é diferente (zero a 100 pontos), foi considerada pontuação superior a 75. Em todas as habilidades analisadas, as médias sobem quando a avaliação das escolas particulares se soma à das públicas. Mas, entre essas, o levantamento não diferenciou as redes federal, estaduais e municipais, informando apenas o resultado geral por unidade da Federação.
 
Destaque
 
Minas Gerais se destaca em matemática, quando avaliado o total das instituições de ensino: 49,3% dos alunos tiveram desempenho desejado na matéria, deixando o estado em primeiro no ranking nacional. Mas, quando considerada apenas a rede pública, Minas cai para a terceira posição (44,1%), atrás de Santa Catarina (46,5%) e São Paulo (44,4%). No Brasil, os índices são ainda mais críticos. Somente 29,2% dos estudantes da rede pública aprenderam plenamente até o final do 3º ano. Na soma com a particular, esse percentual sobe para 33,3%.
Na escrita, são os alunos mineiros das escolas públicas que se destacam, ocupando o primeiro lugar em desempenho – 37,2% deles tiraram mais de 75 pontos. Quando avaliadas também as escolas particulares, o estado cai para a segunda posição (41,6%), um pouco atrás de Goiás (42%). Em nível nacional, apenas um quarto dos estudantes (25,9%) do ensino gratuito dominam a escrita no fim do ciclo de alfabetização. Quando incluída a rede privada, a porcentagem chega a 30,1%.
Já na avaliação da leitura, 55,3% dos alunos da rede pública de ensino de Minas Gerais tiveram desempenho satisfatório, atrás apenas de quem estuda em São Paulo (57,1%). Quando considerados também os colégios pagos, o índice sobe para 59,1% – mais uma vez, atrás de São Paulo (60,1%). Os números são bem superiores aos indicadores nacionais, de 39,7% e 44,5%, respectivamente.
 
Para especialista, é preciso investir na pré-escola 
 
A diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, defende atenção máxima aos anos iniciais da educação básica. Segundo ela, é preciso investir também na pré-escola e na creche e compensar o fator socioeconômico, responsável pelas disparidades entre as crianças com históricos familiares diferentes. Para a diretora, o país precisa fazer grande esforço para garantir que todas as crianças aprendam conforme o esperado nessa etapa. “Deve-se dar mais apoio técnico e ter políticas diferenciadas em municípios com mais dificuldade de avançar. Aquilo que estabelecemos como 175 pontos é o que toda criança pode aprender cognitivamente”, afirma.
Ela lembra que o pacto pela alfabetização na idade certa teve como motivador a primeira edição da Prova ABC, que mostrou índices satisfatórios para cerca de 50% dos estudantes. Não é possível comparar os dados com a edição atual, uma vez que foram avaliados alunos que já haviam concluído o 3º ano e se encontravam nos primeiros meses da 4ª série. Priscila chama atenção ainda para a diferença de resultados entre os estados. “O berço da desigualdade educacional está aí. Enquanto 37% dos alunos mostram habilidade em escrita em Minas Gerais, em Alagoas esse percentual é de 8%. Essa diferença é inadmissível”, diz. “O Pnaic surgiu com o objetivo de pensar numa intervenção o mais precocemente possível para diminuir as desigualdades”, ressalta.
O desejo é de que todas as crianças tenham o mesmo desempenho que a pequena Júlia Rocha Isidoro Oliveira, de 8 anos, aluna do 3º ano do Colégio Santo Antônio, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ela aprendeu a ler aos 5 anos e hoje domina com perfeição as letras e os números. A menina conta que prefere ler a escrever e que não fica atrás em matemática. Na fase de aprendizado da divisão, ela exibe com orgulho letra bonita e a tabuada na ponta da língua. Mas a paixão é mesmo os livros, principalmente de aventura: “Começo um, passo para outro e para outro. Adoro”.
 
 
 
 
 
 
Texto retirado do site Estado de Minas, no dia 27/06/2013

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