Criança precisa amar a aula, diz especialista sobre adaptação na escola
Depois de tanto tempo em casa, voltar à rotina de
estudos pode não ser tão simples. Afinal, é preciso conhecer professores
diferentes, aprender conteúdos mais complexos e conviver com novas
experiências. Para alguns é ainda mais difícil, pois ingressam pela
primeira vez na escola ou mudam de instituição de ensino. Nesses casos,
os próprios colegas também são novidade, assim como a metodologia e a
infraestrutura do local. De acordo com a professora da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo (USP) Silvia Colello, é preciso
estar atento ao comportamento da criança quando volta do colégio.
"As crianças precisam amar a escola, principalmente as
menores de 10 ou 11 anos", afirma Silvia. Segundo a educadora, os pais
devem desconfiar se os pequenos não gostam ou se mostram apáticos em
relação aos estudos. Afinal, trata-se de um momento da vida em que a
instituição de ensino abarca uma grande parte da rotina deles, pois é o
local da aprendizagem, das brincadeiras e também de encontro com os
amigos.
Os sinais de que a criança não está bem na escola são
muitos, como se recusar a fazer as tarefas, não comentar sobre os
estudos ou pedir para não ir à aula. Nesses casos, a melhor alternativa é
conversar com elas e com os professores. Em alguns casos, a
transferência para outra instituição pode ser necessária.
Segundo Silvia, a família não pode forçar os pequenos se
perceber que a adaptação não vai funcionar. Ela mesma já teve de trocar
o local de estudos do filho porque ele não se adaptou à metodologia de
ensino da instituição. No entanto, a decisão não deve ser precipitada e
tem de levar em consideração que é sempre necessário um tempo.
Ela explica que adaptação tem de começar bem antes do
início das aulas, e o futuro aluno deve participar ativamente desse
processo. O primeiro passo é visitar a escola para conhecer o espaço e a
pedagogia adotada. Algumas instituições, como o Colégio Parque, do Rio
de Janeiro, promovem um dia de visitas, em que são feitas atividades
entre professores e alunos. Em outras, como o Colégio Rio Branco, de São
Paulo, é possível marcar um horário para fazer um tour guiado pelos
próprios docentes.
A próxima etapa talvez seja a mais difícil: decidir qual
a instituição em que a criança irá estudar. Segundo a educadora, os
pais devem ouvir a opinião do filho e discutir com ele diante das
alternativas encontradas. A palavra final será dos adultos, mas é
importante saber como o estudante se sente. Isso vale principalmente
para aqueles que ingressam pela primeira vez na escola, pois precisam de
um ambiente que lhes pareça favorável e interessante.
A hora da matrícula não é, no entanto, a última etapa de
adaptação antes do início das aulas. Esse é o momento de manter o
estudante interessado. Portanto, de acordo com a psicopedagoga
especialista em dificuldades de aprendizagem Bianca Acamparo, a família
precisa conversar com os filhos e comentar como a escola e os estudos
são positivos.
Além disso, levá-los para escolher o material escolar e o
uniforme também é uma forma de atrair a atenção. Depois disso, só resta
esperar pelo começo do ano letivo. Algumas escolas costumam realizar
reuniões com pais e alunos para apresentar o calendário de atividades e
provas, a equipe de profissionais e as regras.
Escola não é brincadeira, e as crianças precisam entender isso
Ao longo da vida escolar, é natural que a rotina se
torne mais exigente e complexa. No entanto, há três momentos da educação
básica que as mudanças se tornam mais latentes. Para lidar com isso, é
importante se preparar e estar atento às novas cobranças. A transição
entre o ensino infantil e o fundamental é um deles. Até porque, segundo
Silvia, exige maior dedicação e concentração do aluno, já que as
atividades e as tarefas da pré-escola são mais lúdicas e a realização de
tarefas ocorre de uma forma mais leve, sem tantas cobranças. No
entanto, a educadora orienta os pais que nunca tratem a escola como uma
brincadeira na conversa com os filhos, pois eles podem se sentir
enganados. Outro risco é que os pequenos sofram da chamada "síndrome do
primeiro ano", quando finalmente descobrem que aprender dá trabalho e
exige esforço.
No meio do ensino fundamental ocorre outra mudança de
segmento, quando o aluno ingressa na sexta série e passa a ter mais
disciplinas. Essa troca vai exigir ainda mais preparação, pois será
necessária organização para lidar com os diversos professores e
disciplinas, além da divisão do horário em períodos. Afinal, às vezes,
ocorrem cinco aulas diferentes em um único dia, sem contar que é
necessário se programar para realizar as atividades extraclasse. Por
fim, no ensino médio, as mudanças estão mais relacionadas ao planos
futuros do que a escola em si. Nessa etapa, eles terão de começar a
pensar em carreira profissional e vestibular. Como são fases que a
criança ou o adolescente terá de enfrentar, a mudança de escola poderá
ser a primeira lição para os muitos desafios que virão.
Texto retirado do site Terra, no dia 23/03/2013
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