No Projeto Âncora, escola heterodoxa de turno integral, estudantes criam as próprias regras
Em um momento da manhã, o grupo de alunos dá início a uma assembleia. A pauta do dia prevê discussões sobre possíveis melhorias para a escola, sugestões de novas oficinas, problemas de socialização. Esse é um momento de pausa nas outras atividades do Projeto Âncora - e, ao mesmo tempo, uma de suas mais importantes iniciativas. Os debates em grupo são parte importante da busca por senso de grupo, responsabilidade e autonomia, alguns dos princípios que norteiam a iniciativa desde a sua criação, em 1995.
Localizado no município de Cotia, região metropolitana
de São Paulo, o Âncora nasceu com o objetivo de formar crianças e jovens
ativos em sua comunidade. Até 2011, as atividades eram realizadas no
contraturno escolar: cursos profissionalizantes, de informática, aulas
de circo, música, dança e esporte faziam parte da rotina de crianças.
Desde o ano passado, o projeto conta com escola. Sob o comando do
educador português José Pacheco, criador da Escola da Ponte, o colégio
de Cotia foge do tradicional. Nada de salas de aulas, lousas, provas.
Os grupos são divididos em: iniciação, para quem está
aprendendo a ler; desenvolvimento, quando o conceito de autonomia é
tratado com foco maior; e aprofundamento, quando o aluno já tem mais
liberdade para definir seu cronograma. A fase de desenvolvimento, que
atende crianças a partir dos oito anos, prevê a realização de tarefas em
uma grande sala, com alunos de várias faixas etárias. Eles são
acompanhados por um tutor, que fica responsável pelo planejamento
pedagógico individual. A educadora Juliana Guida Vieira Graglia explica
que o papel do profissional é observar o desempenho da criança e, a
partir disso, apontar atividades que se enquadrem em seu gosto. "Ele
fica a cargo de analisar, também, os aspectos sociais desse aluno e sua
capacidade de se relacionar, além de fazer uma ponte com a família",
diz. Uma vez por semana, tutor e aluno montam o planejamento do próximo
período - de sete a 15 dias - envolvendo atividades de português,
história, geografia, matemática e ciências.
Os alunos da fase de desenvolvimento cumprem um quadro
de horários e se dividem entre a realização das tarefas previstas no
planejamento e a participação em oficinas. "A idade não é determinante
nesse processo. Quando os educadores acreditam que o aluno está apto a
seguir em frente, ele passa ao estágio seguinte", explica. Na fase de
aprofundamento, a parte de projeto recebe destaque. O aluno já não
cumpre mais uma tabela de horários - ele é quem decide quando partir
para os exercícios de português ou quando dar continuidade a uma
pesquisa sobre química. "Ele sabe que, se quiser ir para a quadra
esportiva hoje, vai ter que compensar amanhã", afirma. Os alunos ficam
na instituição das 7h20 às 16h30, com almoço e lanches da manhã e da
tarde.
Não dizemos 'chiu', para pedir silêncio. Não pedimos,
por favor, para 'urinar dentro do vaso'. Os limites são estabelecidos
pelo sistema de regras aprovadas pelos alunos
Pacheco explica que não é necessário convencer um aluno
da importância da aprendizagem de um assunto. "No Âncora, acontece a
aprendizagem significativa. As crianças sabem por que razão aprendem
aquilo que aprendem. E, no quadro de projetos, aprendem todos os
conteúdos consignados na grade curricular nacional", diz. O educador
conta que a escola recebeu muitos alunos que apresentaram problemas de
comportamento em outros lugares, mas acredita que muitos desses casos
tiveram melhora no projeto. "Não trabalhamos com combinados impostos.
Não dizemos 'chiu', para pedir silêncio. Não pedimos, por favor, para
'urinar dentro do vaso'. Os limites são estabelecidos pelo sistema de
regras aprovadas pelos alunos, que regula o sistema de relações em uma
base de cooperação, onde não há lugar para a punição, mas para a
interajuda", diz. Juliana explica que a ideia é compreender a causa de
determinadas atitudes. "Punir é uma medida paliativa, não resolve. O que
queremos é desenvolver o senso de responsabilidade", destaca.
Circo, música e dança fazem parte da rotina
As oficinas ficam abertas para os inscritos - mas é preciso dar conta
das atividades previstas pelo tutor. Entre aulas de culinária, horta,
circo, música, dança e tricô, os participantes vão desenvolvendo
habilidades diferentes daquelas previstas no currículo tradicional.
Responsável por lições de música, o educador Marcello Ribeiro explica
que uma das preocupações é formar alunos cientes de suas capacidades,
suas limitações e da forma como superá-las.
Texto e imagens retiradas do Notícias Terra, no dia 07/02/2013. Escrito por Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
Nenhum comentário:
Postar um comentário